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Introdução O presente tópico aborda um tema bastante importante, tema este que diz respeito a sociedade anónima, onde veremos que uma Socied...

Os Reinos Afro-Islâmicos

Introdução
O presente trabalho surge no âmbito da disciplina de História e tem como tema: Os estados afro-islâmicos do Costa. Falar-se-á sobre o sultanato de Angoche, de Quitagonha e o Sancul.
De salientar que Um dos resultados entre os mercadores árabes e população moçambicana foi exactamente a islamização progressiva dessas comunidades, principalmente no litoral onde surgiram, como consequência, núcleos linguísticos como:  Mwani, Nahara e Koti  e adopção por estes, de modelo de organização social e politico arabizados. Em resultado disso, estruturaram-se unidades políticas moçambicanas como Xeicados e Sultanatos.
A origem do sultanato de Angoxe está ligada à fixação em Angoxe de refugiados de Quiloa já estabelecidos em Quelimane e Ilha de Moçambique. O primeiro Sultão provavelmente tenha sido Xosa, filho de tal Hassani que viera em Angoxe, por ter constatado que Angoxe reunia condições para o comércio. Com efeito, Angoxe ganhou importância crescente quando a capital de estado mwenemutapa mudou para próximo de Zambeze e na abertura das rotas comerciais seguindo os ris Mazoe e Luanga.


Os Reinos Afro-Islâmicos
Um dos resultados dos contractos entre mercadores árabes e populações moçambicanas foi a islamização progressiva destas comunidades, principalmente no litoral onde surgiram como consequência núcleos linguísticos como os Mwani, nharra e Koti e a adopção por estas modelos de organização social e politico arabizados. Em resultado disso estruturam-se comunidades políticas moçambicanas como os Xeicados e Sultanatos.
Os Reinos Afro-Islâmicos são resultado da chegada dos Árabes a Moçambique no século IX, provenientes do Golfo pérsico e instalando-se progressivamente na costa moçambicana, concretamente na Ilha de Moçambique e em Quelimane, numa primeira fase, e mais tarde, no Vale de Zambeze e no Planalto do Zimbabwe, no século XIII.
Numa primeira fase os Reinos Afro-Islâmicos dedicavam-se ao comércio do ouro, marfim e peles de leopardo. A partir do século XVIII, quando a procura dos escravos ultrapassou o comércio do marfim, os Reinos Afro-Islâmicos especializaram-se neste comércio. No século XIX, quando medidas abolicionistas foram decretadas por Portugal, em 1836 e em 1842, estes reinos continuaram a praticar a escravatura, assegurando o comércio clandestino de escravos para Zanzibar, Ilhas Francesas do Oceano Indico e Golfo Pérsico.

Relações entre os Reinos Afro-Islâmicos e Portugal
Analisando a relação destes com os Portugueses, repete-se o que se passava com os Estados Militares: Portugal procurou aliciar os sultões e xeiques, dando-lhes cargos administrativos -militares como os de Capitão-mar. Agindo assim, garantia, pelo menos teoricamente, que os Sultanatos e Xeicados se subordinassem à administração portuguesa. Na prática, esta subordinação era feitiça, pois existia enquanto os portugueses não interferissem contra os seus interesses.

Os Reinos Afro-Islâmicos continuaram autónomos porque os portugueses não possuíam recursos humanos, financeiros e militares para os conseguir dominar, embora quisessem convencer o mundo de que efectivamente ocupavam Moçambique.


Aspectos comuns dos Reinos Afro-Islâmicos
Os Reinos Afro-Islâmicos da costa tinham muitos aspectos em comum, a saber:
  • Praticavam o comércio de escravos;
  • Tornaram-se muito importantes na região da Makuana;
  • Praticavam a religião islâmica;
  • Teoricamente encontravam-se subordinados aos portugueses, mas, na prática a, eram autónomos.

Entre eles destacam-se:
  • O Sultanato de Angoche e Sultanato de Moma;
  • O Xeicado de Sancul; o Xeicado de Quitangonha; o Xeicado de Sangage e Xeicado de Tungue.

O Sultanato da Angoche
Origem
Segundo Melto Machado, citado por Souto (1996:99), a História de Angoche pode dividir-se em três períodos:
  • Período do domínio nativo, anterior à chegada dos muçulmanos;
  • Período do domínio muçulmano que começa com a chegada dos árabes à costa de Moçambique e se estende ate à conquista e Angoche, em 1861, por João Bonifácio, chefe do estado militar de Maganja da Costa;
  • Período do domínio português, que começa com as campanhas de pacificacao e se estendem ate à derrota final de Angoche, no inicio do século XX.

Segundo a tradição “xiraz”, Quelimane e Ilha de Moçambique teriam sido fundados por refugiados de Quiloa (Mussa e Hassani), antes da chegada dos portugueses que fixaram respectivamente na Ilha de Moçambique e Quelimane.
Hassani morre durante a viagem e Mussa em visita ao túmulo de Hassane, reconheceu as potencialidades de Angoche (em termos de condicoes sócio-economicas e comercias do que Quelimane) como ponto estratégico do tráfico de escravos, por isso instalou Xisa, filho de Hassani como o primeiro sultão de Angoche.

Base Económica
Durante longos anos havia sido Sofala o entreposto que controlava todo o comércio com interior. Porem, com a fixação portuguesa neste ponto em 1505, esta perdeu a sua importância. Os Arabes Swahilli, em defesa do monopólio comercial de há anos, desviaram a rota do ouro com términos em Angoche donde continuaram a comerciar. Isto significa que Angoche adquiriu o lugar de entreposto comercial do ouro proveniente do Mwenemutapa.
O declínio do comércio em Sofala, em 1511, os portugueses atacaram sem sucesso Angoche, tendo prendido o Sultão e minar a influência, mesmo assim, os sultanatos mantiveram a sua hegemonia comercializando com Melinde, Mombaca, Quiloa e outras regiões, evitando o patrulhamento português.
Portanto, no século XIX, a principal actividade económica era o comércio de escravos, praticando-se em menor escala o comércio de marfim e do ouro. Angoche transformou-se num importante entreposto comercial quando a capita dos estados dos Mwenemutapa mudou para próximo do rio Zambeze e a abertura de rotas comerciais seguindo os rios Mazoe e Luenha.
Com o comércio de escravo o sultanato de Anoche recupera a sua importância transformando-se num grande centro exportador de escravos para Zanzibar, Comores e Ilha de Moçambique fugindo mesmo ao patrulhamento naval luso-britânico.

Organização política e social
A sociedade de Angoche era fundamentalmente patrilinear. Os filhos de Xosa e sua esposa macua Mwana Moapeta deram origem a quatro linhagens angocheanas: Inhanandare, Inhamilala, Mbilinzi e Inhaitide que recebiam colectivamente a designação de Inhapaco, clã matrilinear de Mwana Moapeta.

A linhagem dominante era inicialmente, a do Inhananare. Durante três gerações a sucessão do Sultanato seguiu o modelo patrilinear. A situação mudou quando sucção morreu sem deixar filhos varões.
Sucedeu-lhe a sua irmã Milidi casada com a linhagem Inhamilala. E por morte da sultana sem filhos descendentes, conduziu à guerra civil de sucessão que culminou com a evolução da linhagem Inhanandare de Angoche na segunda metade do século XVI e retantes linhagens patrilineares partilharam entre si os cargos.
Estes acontecimentos provocaram o declínio do comércio e enfraquecimento do poder politica de Angoche e facilitaram a dominação portuguesa que em fins do século VXI já dominavam a região.
O renascimento da hegemonia do sultão data do século XIX, período do incremento do tráfico de escravos destinados à Ilha de Moçambique, America, Comores e Zanzibar.
Em 1849 Hassan Issufo da linhagem Inhamilala usurpou o poder com o apoio dos portugueses e Mussa Mohamed Sahib conhecido por Mussa quanto tornou-se o comandante militar do Sultanato.
Em 1854 entrou em conflitos com Bonifacio da Silva (Mˋpasso) rei do Estado Militar da Maganja da Costa, que ambicionava Angoche. Este com o apoio dos portugueses, atacaram Angoche em 1861 e Mussa quanto foi obrigado a refugiar-se em Madagáscar onde se tornou sultão.
A partir de 1862, com o apoio da Magascar, Ilhas Mascarenhas e dos traficantes da Ilha de Moçambique, Mussa iniciou a reconquista de Angoche numa luta com carácter de “Jihade” (guerra santa) que duros 15 anos. Este começou por atacar os aliados dos portugueses (sangage, Sancul, Imbamela) e reinstala-se no poder em finais da 1864 ate 1877, altura da sua morte.

Aparato ideológico
A religião dominante era o Islao, que os angocheanos souberam utilizar para manter unida e coesa a sociedade de Angoche.

Decadência
São várias as causas que, associadas, explicam a decadência deste Sultanato:

Enfraquecimento político ocasionado pela morte do sultão, que não deixou um sucessor masculino;
  • As rivalidades internas e as lutas entre linhagens;
  • O declínio de comércio de escravos;
As campanhas de ocupação e de conquista levadas a cabo pelos portugueses a partir de 1885. Nestas campanhas, destacaram-se os sultões Ibrahimo, Farelay e Mussa Quanto, que ofereceram uma tenaz resistência à presença portuguesa. So em 1910 é que Angoche foi dominada pelos portugueses, face à política de pacificação.

Xeicado de Sancul
Origem
Foi formado no século XVI por imigrantes da ilha de Moçambique. A sua localização goza de uma favorável posição geográfica, entre Luambo e o Mogiccual (na Bia deMocambo), com números braços de mar de fácil acesso, permitindo-lhe grande intercâmbio comercial com o exterior.

Base económica: a principal actividade económica era o comércio de escravos.
Organização política e social: no Xeicado de Sancul, a sucessão do poder fazia-se por alternância de linhagens, para evitar conflitos entre estas. Tal situação trouxe uma certa estabilidade ao Xeicado, pelo menos ate ao século XIX.

Aparato ideológico: a religião dominante era o Islamismo.

Decadência
O Xeicado de Sancul manteve uma certa lealdade à coroa portuguesa, pelo menos ate 1753, altura em que o Xeique de Sancul é assassinado por um comandante português porque albergava escravos foragidos dos portugueses o que contrariava os interesses dos portugueses. A partir de então as relacoes entre os portugueses e Xeiques sucessores romperam-se, o que terá contribuído para a decadência do Xeicado no fim do século XIX e no princípio do século XX.
No século XIX, dirigentes de Sancul traficavam escravos e toda a tentativa de impedir o tráfico de escravos foi infrutífera pois os benefícios se estendem aos governantes portugueses, facto que conduziu aos conflitos entre os intervenientes.
A partir de 1877 verificaram-se mudanças movidas pelos conflitos que culminaram com a captura, em 1880 de Makusi Omar, capitão-mor de Sancul. Em substituicao de Omar, os portugueses nomearam Molid Vulai, em 1886, demonstrando a sua incapacidade de controlar o poder, os traficantes e de transformar Sancul num posto administrativo militar do capitão-mor.
A partir de 1885, Portugal levou a cabo campanhas de conquista e ocupação, em cumprimento das decisões da Conferencia de Berlim (ocupação efectiva), encontrando uma forte resistência dirigida por Suali Bin Ibrahimo, também chamado Marave, mas este foi obrigado a seguir a política moderada a partir de 1988.

Xeicado de Quitangonha
Origem
Tal como Sancul, este Xeicado foi formado no século XVI (1515 – 1585), por imigrantes da Ilha de Moçambique situava-se na Península de Matgibane, a norte da Ilha. Estes aliaram-se aos portugueses nos séculos XVI e XVIII o que contribuiu para a sua manutenção no tráfico marítimo.

A aliança ficou ameada a partir de 1755 coma chegada dos franceses em busca de escravos para as suas plantações. Com os lucros auferidos com os franceses, os dirigentes Xeicado impuseram-se a todas imposições dos portugueses.

Os objectivos dos dirigentes de Quitangonha eram o monopólio do trafico em toda a zona entre Nacala ate Conduzia entrando em choque com os restantes traficantes. O Xeique manteve sua hegemonia ate ao século XIX e independente dos portugueses, mantinham relações com as Ilhas Comores – 1831.
Mesmo com os decretos de 1836 e 1842, os Xeique decorreu entre 1903 – 1904 período da “ocupação electiva” portuguesa, tendo o Xeique Muhmud e suas forcas atacado Mossuril. Primeiro Xeique: Amade Abdulah, morto em 1884 (filho).

Base económica
A principal actividade económica era o comércio de escravos. A aristocracia de Quitangonha monopolizava toda actividade esclavagista na zona compreendida entre a Baia de Nacala e a de Conduzia, estendendo-se ate ao interior macua. Mantinha relações comerciais com Comores, Zanzibar e Madagáscar.

Organização política e social
A sociedade de Quitangonha era essencialmente matrilinear e a sucessão era hereditária.

Aparato ideológico

A religião dominante era o Islamismo, que garantia a unidade a coesão desta sociedade.

Decadência
Tal como os restantes reinos atrás referidos, Quitangonha mantinha relações amistosas com autoridades portuguesas, desde que estas não interferissem na sua estruturas económicas, política e ideológica. Quando foram impostos na região os decretos anti-esclavagistas de 1836 e 1842, os portugueses passaram a ser hostilizados pelas aristocracias de Quitangonha.

Quitangonha manteve a sua autonomia e resistiu à dominação portuguesa ate ao século XX. Nesta resistência destacou-se Muhamud Amade, que se opôs à penetração portuguesa.

Xeicado de Sangage
Origem
Desde a sua formação esteve ligado ou dependente do Sultanato de Angoche, estabeleceu a sua autonomia no primeiro quartel do século XIX na base de aliança com a administração portuguesa, com os dirigentes de Sancul e com comerciantes baneanes da Ilha de Moçambique provocando hostilidade entre Angoche e os portugueses.

Base económica
A principal actividade económica era o comércio de escravos. Graças ao apoio português contra os seus vizinhos de Sancul e Angoche, Sangage possuía uma certa independência e prosperidade no comércio de escravos.

Organização política e social
A sucessão dos Xeiques de Sangage era definida por via matrilinear, o que garantiu o estabelecimento de fortes laços económicos e de parentesco entre um número reduzido de famílias do Xeicado.
Aparato ideológico: a religião dominante era o Islamismo, que garantia a unidade e a coesão desta sociedade.

Decadência
No prosseguimento da sua campanha de conquista e ocupação, na primeira década do século XX, as terras do Xeicado foram ocupadas por portugueses e transformadas num regulado.
Em 1912 deu-se a ultima batalha dirigida por Xeique Mussa Phiri contra os portugueses, mas com o avanço da ocupacao colonial Mussa aliou-se a estes passando a cobrar tributos e participando na campanha colonial contra Farelah. Com a prisão dum dos seus sobrinhos, Mussa Phiri mais tarde mobilizou os seus homens e com o apoio dos chefes macuas de Mongucual e Mogovolas atacou sem sucesso aos portugueses. Mussa morreu no exílio no Timor e a região foi transformado num regulado português.
Conclusão
Chegado ao fim da pesquisa percebesse que, a partir do século X, os mercadores árabes que demandavam as costas de “Sofala” foram difundindo o islão entre as populações costeiras, mas foi apenas após a instalação em Zanzibar dum xeicado dependente do sultanato de Oman, no século XVII, que começaram a organizar-se pequenos estados de organização islâmica.
Na província de Nampula, no norte de Moçambique, formaram-se o “Xeicado de Quitangonha”, “Reino de Sancul”, “Xeicado de Sangage” e “Sultanato de Angoche”.
No período do tráfico de escravos estes reinos islamizados tomaram-se influentes na costa de Moçambique assegurando esse comércio, mesmo depois da sua abolição oficial. Entre eles destacamos: o Sultanato de Angoxe, o Xeicado de Sancul, Quitangonha e o Xeicado de Sangage.

Bibliografia
  • NHAPULO, Telesfero. História de 12ª Classe. Maputo plural editora, 2015.
 

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