FILOSOFIA AFRICANA E SUAS CORRENTES
1. INTRODUÇÃO
A filosofia africana é aquela que envolve temas africanos (tais como percepções distintamente africanas, personalidade etc.) ou utiliza métodos que são distintamente africanos.
A filosofia africana é qualquer filosofia praticada por africanos ou pessoas de origem africana, ou outros envolvidos no campo de filosofia africana.
2. FILOSOFIA AFRICANA E SUAS CORRENTES
Filosofia africana é usada de diferentes maneiras por diferentes filósofos. Embora africanos filósofos gastam seu tempo fazendo o trabalho nas mais diversas áreas, tais como a metafísica, epistemologia, filosofia moral e filosofia política, uma grande parte da literatura é retomada com um debate sobre a natureza da filosofia Africano si mesmo e se ele de fato existe.
Filosofia é essencialmente uma actividade reflexiva. Filosofar é reflectir sobre a experiência humana para responder algumas questões fundamentais a seu respeito. Quando o ser humano reflecte buscando a si mesmo ou o mundo que o cerca, ele está tomado pelo “espanto” e essas questões fundamentais surgem na sua mente.
Platão tem o mesmo ponto de vista na República quando diz que não há outro ponto de partida para filosofia que este, o “espanto”. Portanto, o primeiro passo para a actividade filosófica é o “espanto” que acompanha a experiência humana consigo e com o mundo ao seu redor. Este espanto abre caminho para algumas questões fundamentais, eis o segundo passo.
O terceiro passo é tomado quando o ser humano começa a reflectir sobre estas questões fundamentais na busca de respostas. Neste estágio, o homem em questão está filosofando, se ele registar suas reflexões temos por escrito um trabalho filosófico.
A filosofia pode partir de aspectos da subjectividade ou de aspectos da objectividade. Os primeiros filósofos gregos partiram da objectividade. Afinal, eles foram impactados pelo “espanto” enquanto observavam o mundo ao seu redor. Eles ficaram espantados e interessados por duas coisas.
Primeiro, eles estavam muito impressionados com a diversidade e a unidade presentes no universo. Eles observaram que as coisas ao seu redor eram incrivelmente diversas; mas, ao mesmo tempo eles também observaram que existia uma unidade básica no interior de toda essa diversidade.
Segundo, eles estavam maravilhados pelo fato das coisas se transformarem no mundo. Eles anunciaram que as coisas estão constantemente se transformando; mas, ao mesmo tempo eles observaram que existia uma continuidade básica no meio dessas mudanças. Daí, eles observaram que o universo combinava unidade com diversidade e continuidade com mudanças. Este foi o fenómeno estabelecido pelos primeiros filósofos gregos como objecto de investigação. Portanto, as maravilhas do universo físico levaram os primeiros filósofos gregos à filosofar. De fato, fenómenos como a imensidão do espaço, a imensidão do universo, a incrível variabilidade das coisas, a ideia de tempo, a ininterrupta transformação do mundo ao nosso redor, a continuidade presente nessas mudanças, a unidade básica no meio da diversidade, as estações do ano, os corpos celestes e seus movimentos circulares, o céu estrelado, o sol, a lua, etc., têm motivado profundas reflexões filosóficas sobre o mundo.
3. ORIGEM DA FILOSOFIA AFRICANA
Infelizmente, devido a ausência de registos escritos nos últimos tempos, as reflexões filosóficas de pensadores africanos não têm sido preservadas efectivamente.
De fato as reflexões filosóficas de pensadores africanos não foram preservadas ou transmitidas através de relatos escritos; a verdade é que esses filósofos permanecem desconhecidos para nós.
Porém, isso não significa que eles não tenham existido; nós temos fragmentos de suas reflexões filosóficas e suas perspectivas foram preservadas e transmitidas por meio de outros registos escritos como mitos, aforismos, máximas de sabedoria, provérbios tradicionais, contos e, especialmente, através da religião.
Isto quer dizer que apresentado na forma escrita, o pensamento pode ser entendido como um sistema, não somente como um conhecimento transmitido de uma geração para outra. Além das mitologias, máximas de sabedoria e visões de mundo, o conhecimento pode ser preservado e reconhecido na organização político-social elaborada por um povo. São esses os meios através do qual as reflexões e perspectivas dos filósofos africanos têm sido preservadas e transmitidas para nós na África.
Portanto, estas reflexões e pontos de vista têm transformado, ao longo dos anos durante o processo de transmissão, parte do modo de vida africano, da cultura e património africanos. Porém, os autores de perspectivas originais e individuais permanecem desconhecidos para nós. Ainda que nós saibamos que essas perspectivas têm sido fruto de profundas e interessantes reflexões de alguns pensadores africanos no passado.
Onde há fumaça, deve existir fogo. Mesmo quando o fogo não pode ser visto. Os fragmentos das reflexões filosóficas, ideias e visões de mundo transmitidas para nós por intermédio de aforismos, máximas de sabedoria, através de provérbios, contos, organizações político-sociais, por meio de doutrinas e práticas religiosas não podem vir do nada. Eles são evidências de profundas reflexões filosóficas de alguns talentosos pensadores que eram filósofos africanos no passado, os africanos contemporâneos de Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Hegel etc.
Nós sabemos que não há algo como consciência colectiva ou consciência comunitária no sentido estrito do termo. Por consciência entendemos sempre uma consciência individual e pensamentos sempre são de indivíduos. A expressão “pensamento colectivo” não pode significar outra coisa além de pensamento de indivíduos numa comunidade.
A filosofia tradicional africana surgiu a partir de pensadores individuais, filósofos que reflectiram sobre questões fundamentais que surgiram da experiência humana. Professor Wiredu diz que elas são propriedades de todos; mas, isso não que elas foram produzidas por todos. Pensamentos e ideias transmitidos por pensadores eventualmente se transformam em propriedade comum. Mas, isto não significa que esses pensamentos não tenham sido elaborados por autores individuais.
A filosofia africana não deve ficar restrita à filosofia tradicional, devemos incluir filósofos africanos contemporâneos como Kwame Nkrumah, Leopold S. Senghor, Nyerere e Kwasi Wiredu. Os três primeiros são pessoas públicas que têm contribuído imensamente com a filosofia política africana contemporânea, o último nome, Kwasi Wiredu, é um filósofo académico, professor de filosofia. Sem dúvida, existem outros filósofos em departamentos de filosofia por toda a África.
3.1 Filosofia africana Pré-moderna
A filosofia na África tem uma história rica e variada, que data do Egito pré-dinástico, continuando até o nascimento do cristianismo e do islamismo. Sem dúvida, foi fundamental a concepção do "Ma'at", que traduzido, significa aproximadamente "justiça", "verdade", ou simplesmente "o que é certo". Uma das maiores obras de filosofia política foi o Maxims de Ptah-Hotep, que foi empregado nas escolas egípcias durante séculos.
Filósofos egípcios antigos deram contribuições extremamente importantes para a filosofia helenística, filosofia cristã e filosofia islâmica.Na tradição helênica, a influente escola filosófica do neoplatonismo foi fundada pelo filósofo egípcio Plotino, no terceiro século da era cristã.
Na tradição cristã, Agostinho de Hipona foi uma pedra angular da filosofia e da teologia cristã. Ele viveu entre os anos 354 a 430, e escreveu a sua obra mais conhecida "Cidade de Deus", em Hipona, actual cidade argelina de Annaba. Ele desafiou uma série de ideias de sua idade incluindo o arianismo, e estabeleceu as noções básicas do pecado original e da graça divina na filosofia e na teologia cristã.
Na tradição islâmica, Ibn Bajjah filosofou junto com linhas neoplatônicas no século XII. O sentido da vida humana, de acordo com Bajjah, era a busca da felicidade, e essa felicidade verdadeira só é atingida através da razão e da filosofia, até mesmo transcendendo os limites da religião organizada.
Ibn Rush filosofou segundo as linhas aristotélicas, estabelecendo a escolástica do Averroísmo. Notavelmente, ele argumentou que não haviam conflitos entre a religião e a filosofia, uma vez que existem diversos caminhos para Deus, todas igualmente válidas, e que o filósofo está livre para tomar o caminho da razão, enquanto as pessoas comuns só eram capazes de tomar o caminho dos ensinamentos repassados a eles.
Ibn Sab'in discorda dessa ideia, alegando que os métodos da filosofia aristotélica eram inúteis na tentativa de entender o universo, porque elas não reflectem a unidade básica com Deus e consigo mesma, de modo que o verdadeiro entendimento necessário requer métodos diferentes de raciocínio.
Houve também filosofia pré-modernista na África Subsaariana. O ganês Anton Wilhelm Amo é um importante representante. Ele foi levado pela Companhia das Índias Orientais para a Europa, onde adquiriu diplomas nas áreas da medicina e da filosofia, chegando a leccionar na Universidade de Jena.
Em termos de filosofia política, a independência da Etiópia e o exercício da independência dos nativos africanos frente ao colonialismo europeu serviram como gritos de guerra no final do século XIX e início do século XX, e foram determinantes para os movimentos de independência de grande parte dos países africanos durante o século XX.
3.2 Filosofia Africana Moderna
O filósofo queniano Henry Odera Oruka distinguiu o que ele chama de quatro tendências na filosofia africana moderna: etnofilosofia, sagacidade filosófica, filosofia ideológica nacionalista e filosofia profissional.
Mais tarde, Oruka adicionaria mais duas categorias: a filosofia literária/artística, que teve representantes como Ngugi wa Thiongo, Wole Soyinka, Chinua Achebe, Okot p'Bitek, e Taban Lo Liyong; e a filosofia hermenêutica.
Maulana Karenga é um dos principais filósofos. Ele escreveu um livro de 803 páginas intitulado "Maat, o ideal moral no Egito Antigo".
4. PRINCIPAIS CORRENTE DA FILOSOFIA AFRICANA
As principais correntes da filosofia africana são: Panafricanismo, negritude, etnofilosofia, filosofia da libertação.
O pan-africanismo é uma ideologia que propõe a união de todos os povos de África como forma de potenciar a voz do continente no contexto internacional. Relativamente popular entre as elites africanas ao longo das lutas pela independência da segunda metade do século XX, em parte responsável pelo surgimento da Organização de Unidade Africana, o pan-africanismo tem sido mais defendido fora de África, entre os descendentes dos escravos africanos que foram levados para as Américas até ao século XIX e dos emigrantes mais recentes.
Eles propunham a unidade política de toda a África e o reagrupamento das diferentes etnias, divididas pelas imposições dos colonizadores. Valorizavam a realização de cultos aos ancestrais e defendiam a ampliação do uso das línguas e dialectos africanos, proibidos ou limitados pelos europeus.
A teoria pan-africanista foi desenvolvida principalmente pelos africanos na diáspora americana descendentes de africanos escravizados e pessoas nascidas na África a partir de meados do século XX como William Edward Burghardt Du Bois e Marcus Mosiah Garvey, entre outros, e posteriormente levados para a arena política por africanos como Kwame Nkrumah. No Brasil foi divulgada amplamente por Abdias Nascimento.
Normalmente se consideram Henry Sylvester Williams e o Dr. William Edward Burghardt Du Bois como os pais da Pan-Africanismo. No entanto, este movimento social, com várias vertentes, que têm uma história que remonta ao início do século XIX. O Pan-Africanismo tem influenciado a África a ponto de alterar radicalmente a sua paisagem política e ser decisiva para a independência dos países africanos. Ainda assim, o movimento tem conseguido dois dos seus principais objectivos, a unidade espiritual e política da África, sob o pretexto de um Estado único, e pela capacidade de criar condições de prosperidade para todos os africanos.
Negritude, foi o nome dado a uma corrente literária que agregou escritores negros francófonos e também uma ideologia de valorização da cultura negra em países africanos ou com populações afro-descendentes expressivas que foram vítimas da opressão colonialista.
Considera-se geralmente que foi René Maran, autor de Batouala, o precursor da negritude. Todavia, foi Aimé Césaire quem criou o termo em 1935, no número 3 da revista L'étudiant noir ("O estudante negro").
O termo etnofilosofia tem sido usado para designar as crenças encontradas nas culturas africanas. Tal abordagem trata a filosofia africana como consistindo em um conjunto de crenças, valores e pressupostos que estão implícitos na linguagem, práticas e crenças da cultura africana e como tal, é visto como um item de propriedade comum. Um dos defensores desta proposta é Placide Tempels, que argumenta em filosofia bantu que a metafísica do povo Bantu são reflectidas em suas linguagens. Segundo essa visão, a filosofia africana pode ser melhor compreendido como surgindo a partir dos pressupostos fundamentais sobre a realidade reflectida nas línguas da África.
A Filosofia da Libertação é uma Filosofia Latino-americana que nasceu como movimento filosófico na América Latina, inclusive foi o primeiro movimento que problematizou a possibilidade de uma Filosofia Latino-Americana e por isso, há uma discussão se a Filosofia Latino-Americana só o é, se Filosofia da Libertação.
O Movimento se mostra, notadamente entre os anos 1960 e 1970 (há controvérsias sobre a data), nasce como correlato filosófico da Teologia da Libertação, Pedagogia do Oprimido, Psicologia da Libertação, Sociologia da Libertação, Direito da Libertação (Direito Alternativo), Antropologia da Libertação, Economia da Libertação...
Tem como um de seus momentos marcantes a publicação em 1968 da obra Existe uma filosofia da nossa América, pelo peruano Augusto Salazar-Bondy. Em seu texto (não traduzido para o português), o autor faz um apanhado histórico e defende uma tese que afirma a inexistência de uma filosofia propriamente latino-americana. Em resposta, o mexicano Leopoldo Zea publica, em 1969,
O autor mais destacado desta corrente filosófica é indubitavelmente Enrique Dussel, filósofo argentino naturalizado mexicano e autor de uma vasta obra que partiu, nos anos 1970, de uma transição da teologia para a filosofia da libertação, chegando actualmente a sua obra mais madura no campo da Ética e da Filosofia Política.
5. CONCLUSÃO
Ao realizar este trabalho, fiquei a saber melhor sobre a filosofia africana e suas principais correntes. Filosofia africana é usada de diferentes maneiras por diferentes filósofos.
Infelizmente, devido a ausência de registos escritos nos últimos tempos, as reflexões filosóficas de pensadores africanos não têm sido preservadas efectivamente.
6. BIBLIOGRAFIA
- KIZERBO, Joseph.– Introdução: As tarefas da História na África. In: História da África Negra – Volume 1, Portugal: Biblioteca Universitária – Publicações Europa-América, 2009.
- HEGEL (G.W.F.), La philosophie de l´histoire, Paris, Le Livre de Poche, 2009. (Versão Traduzida em português).
- WIREDU, K. Philosophy and an African Culture, Cambridge University Press, 1980.
- Appiah (Kwame Anthony), Na casa do meu pai – A África na filosofia da cultura, Rio de Janeiro, 1997.
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- Bertrand Russell, Os Problemas da Filosofia (Arménio Amado, várias edições) In Oxford Companion to Philosophy (OUP, 1995, pp. 666-670)
- MANCE, Euclides André. As Filosofias e a Temática de Libertação – IFIL- Instituto de Filosofia da Libertação - Uma Introdução Conceitual às Filosofia da Libertação. Curitiba, IFIL - Revista de Filosofia – Ano I, Nº 1, 2000.