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Evolução do Pensamento Geográfico na Idade Média

Introdução 
O presente trabalho aborda um tema bastante importante, tema este que diz respeito à Evolução do pensamento Geográfico na Idade Média onde veremos que à semelhança do que aconteceu noutras áreas do conhecimento científico, a evolução da geografia reflectiu e acompanhou as progressivas transformações operadas na sociedade.
Desde a criação do termo pelos gregos, durante o período da Antiguidade Clássica, ate meados do século XIX, apenas se podia falar de um pensamento com incidência geográfica. Só nos meados do século XIX, é que a geografia adquire o estatuto de ciência autónoma, concretizando-se a sua institucionalização em 1870.
Histórico do Pensamento Geográfico 
Desde os tempos mais remotos, no período da Antiguidade, os povos viviam em grupos os quais se deslocavam em busca de meios de subsistência e assim conheciam o espaço em que viviam. Tinham conhecimento do mecanismo das estações do ano e, através dessas migrações, novos caminhos eram percorridos. A partir daí, os primeiros esboços com representações da superfície terrestre eram construídos, surgindo os primeiros mapas. O mapa mais antigo já registrado foi encontrado na cidade de Ga Sur, na Babilónia, datado de 2500 a.C. 
Neste mapa havia representações do vale de um rio que possivelmente representava o rio Eufrates acompanhado de montanhas, assinalando os pontos cardeais. As civilizações do Egipto e Mesopotâmia desenvolviam a agricultura, e por isso, dependiam das irrigações, servindo de grande importância para o estudo hidrológico da região. Ainda na Antiguidade com a expansão política, comercial e marítima no Mediterrâneo, aconteceu a construção de mapas marítimos contendo a descrição de lugares e de seus habitantes. Segundo Andrade (1992), deve-se ressaltar a importante contribuição de Aristóteles para o desenvolvimento do conhecimento geográfico. Este filósofo admitiu a esfericidade da Terra, mas não apenas tratou deste tema, fez também relações aos aspectos físicos e humanos, como a variação do clima com a latitude e a relação entre as raças humanas. Os gregos na costa do Mediterrâneo instauraram colónias em que desenvolviam o comércio e o conhecimento dos lugares. Entre os romanos pode-se destacar a expansão do Cristianismo, religião oficial de Roma no século IV. Neste período, estudiosos afirmavam que os princípios religiosos sobrepunham às ideias científicas já estabelecidas pelos gregos, como por exemplo, a negação aos estudos feitos sobre a esfericidade da Terra, dificultando assim o avanço do conhecimento científico. Ferreira e Simões (1994) relatam que na Idade Média a reorganização do espaço vem com a queda do Império Romano no Ocidente, já que mudanças territoriais foram ocorrendo, pois por meio das invasões bárbaras, guerras foram acontecendo e novas fronteiras foram sendo consolidadas. 

O pensamento geográfico passa a não ser formalizado em termos científicos. “Neste ambiente, a Igreja torna-se o maior poder, já que é o único poder central europeu. As respostas às questões colocadas passam a ser dadas a partir de interpretações bíblicas.” (FERREIRA E SIMÕES, 1994, p. 45). O sistema feudal desencadeado a partir da crise romana é instaurado. Este sistema dominou a vida dos reinos europeus do século X ao século XIII, quando o comércio havia se tornado uma actividade de muito pouca importância. 

No final da Idade Média temos importantes relatos de viagens como as Cruzadas, tendo como consequência a dinamização das relações comerciais entre Ocidente e Oriente. Segundo Ferreira e Simões (1994), com o ressurgimento das curiosidades pelo mundo desconhecido, há o renascimento do comércio entre a Europa e o Oriente e as peregrinações aos lugares santos. Sendo assim, torna-se necessário o desenvolvimento dos instrumentos de navegação, com a utilização de uma Cartografia denominada realista e não mais uma Cartografia religiosa como no início da Idade Média quando a busca por respostas se encontrava numa ordem religiosa. A Cartografia foi reformulada, passando a ser produzidos os chamados portulanos, que para Ferreira e Simões (1994, p. 52) “O nome portulano vem provavelmente da designação <> (do italiano portolano)”, que são os mapas que tinham a capacidade de descrever com detalhes as rotas marítimas. 

Descrições de viagens entre o Ocidente e o Oriente eram feitas, trazendo importantes informações das regiões desconhecidas. Ao mesmo tempo em que o conhecimento do espaço geográfico vinha sendo ampliado, o relacionamento entre sociedade e natureza era estabelecido. Entre os séculos XV e XVIII há o aperfeiçoamento do estudo sobre o magnetismo terrestre, estabelecendo com melhor exactidão a medida das longitudes, podendo-se fazer correcções em antigos mapas. Para Ferreira e Simões (1994) este é um período importante para a ciência geográfica, pois a Geografia retoma os dois rumos que vinha seguindo na Antiguidade, a Geografia matemática e a descritiva. 

Através das viagens e da grande expansão das navegações ao novo mundo, os cientistas puderam fazer observações astronómicas e descrever os lugares. Ferreira e Simões (1994, p.53) descrevem que “A concepção geográfica do mundo mudou mais rapidamente no primeiro quartel do século XVI do que qualquer outra época.” Correcções de mapas eram feitas; o primeiro globo terrestre foi construído nessa época e, no século XVII por meio das observações de estudiosos como Galileu, Copérnico e Kepler, muda-se a concepção sobre a posição da terra no Universo, deixando de ser geocêntrica e passa a ser heliocêntrica. Ferreira e Simões (1994) relatam que na França desenvolve-se uma cartografia de maior escala podendo atender às necessidades de representações territoriais, como administração política, engenharia: estradas e canais; estratégias de guerra, entre outras. 
Porém, com o tempo, a manipulação das experiências praticadas pelo homem vinha sendo feita, alargando a capacidade do desenvolvimento das actividades humanas. Com a manipulação desses problemas respeitando uma ordem preestabelecida por meio de técnicas, surgiu o que chamamos de ciência.

Idade Média
Idade Média instituiu o feudalismo na Europa, tornou a agricultura sua actividade principal e consolidou o poder da Igreja Católica após aliança com os reinos bárbaros.
A Idade Média é o período da história geral que se inicia no século V, logo após a queda do Império Romano do Ocidente, e termina no século XV, com a conquista de Constantinopla pelo Império Turco-Otomano. Foi um período marcado pela síntese da herança romana com a cultura dos povos bárbaros que invadiram o Império Romano.

A Igreja Católica tornou-se uma instituição poderosa e influente não apenas na religião, mas também na sociedade medieval. A invasão bárbara provocou a fuga da cidade em direcção ao campo. A Europa ocidental ruralizava-se, e a riqueza era a terra. A agricultura tornou-se a principal actividade económica, e a produção dos feudos era para o próprio sustento.
A partir do século XIII, por conta dos renascimentos comercial e urbano, o mundo medieval começou a entrar em crise. A centralização do poder nas mãos dos reis derrotou os senhores feudais, pacificou as revoltas servis e abriu as portas da Europa para a Idade Moderna.

Resumo sobre a Idade Média
Idade Média corresponde ao período entre a queda do Império Romano do Ocidente, no século V, e a tomada de Constantinopla pelo Império Turco-Otomano, no século XV.
Economia: agricultura
Política: descentralizada (senhores feudais)
Sociedade: clero, nobreza e servos
Crise: peste, fome e guerra

Evolução do Pensamento Geográfico na Idade Média (séculos V-XIV)
Muitos pensadores consideram a idade medieval uma fase de retrocesso face ao desenvolvimento científico iniciado no período grego.
A derrocada do império romano do Ocidente em 476 d.C. criou condições de fragmentação e isolamento do grande império, ao mesmo tempo que ocorria o estabelecimento de povos invasores (germânicos, hunos, mongóis e turcos) no espaço do antigo império Romano.

 
O Mundo nos séc. XI e XII, representado no mapa de roda.

Por outro lado, as invasões criaram no império um clima de caos e de vazio de poder que criou condições para a implantação do Cristianismo no ocidente e a afirmação do pensamento cristão como forma de pensamento dominante.
O contexto histórico da época medieval contribuiu para a fragmentação e isolamento no antigo império, retraindo tanto o desenvolvimento científico, como a circulação de homens de ideias. Por outro lado, a cultura científica passou a ser dominada pelos monges que vão desenvolver um ambiente fechado e orientado aos interesses pessoais e divinos.
A idade medieval é, portanto, dominada pelo Teocentrismo, isto é, a visão do mundo luz de Deus. A religião sobrepõe-se à ciência. A bíblia passou a dar resposta as interrogações do Homem relacionadas com os fenómenos da Natureza.
No que concerne à Geografia, a época medieval foi marcada por um certo retrocesso, pois a cartografia perdeu o carácter científico alcançado na idade grega, enquanto o mapa-mundo passou a ser uma espécie de disco circular, com o nome de mapa T em O onde Jerusalém; o principal Pólo da cristandade, ocupava o centro e o T separava os três (3) continentes até então conhecidos: Ásia, África e Europa.
Mas a Idade Média registou igualmente alguns progressos como o aumento do horizonte geográfico graças à expansão árabe a partir do século VIII e a divulgação das obras geográficas helenísticas-Romanas no vasto império árabe, do Afeganistão ao Atlântico. Por outro lado, melhorou o conhecimento geográfico e cartográfico movido pelos interesses económicos, políticos e religiosos dos árabes.

Finalmente, a expansão dos árabes e o contacto com os indianos, chineses, resultou em descrições geográficas de qualidade, particularmente as de Ibn Batuta e Al-Idrisi, dois viajantes e geógrafos árabes.
O conhecimento geográfico na Idade Média também se ampliou como resultado da acção dos normandos, povos vindos do norte da Europa. Grandes aventureiros do mar, os normandos enfrentaram as difíceis condições do Mar do Norte até alcançar o Atlântico Norte, a Islândia e a Groenlândia. Estas viagens ampliaram o espaço geográfico conhecido, apesar do pouco aproveitamento comercial e científico.
Estes povos dirigiram-se, igualmente, à Ásia, movidos por interesses comerciais e religiosos. Neste âmbito foram destacados embaixadores para a Mongólia com o objectivo de estabelecer relações com o grande Khan, chefe Mongol. A primeira viagem ocorreu em 1245, organizada pelo Papa Inocêncio IV e chefiada por Piar de Carpine em 1252; o rei de Franca organizou a 2.a missão comandada por Guilherme Rubruck.
Outra contribuição importante dada pela Geografia na época medieval foram os relatos descritivos das viagens de Marco Polo (1271-1291), incidindo sobre a cultura, o comércio, os produtos do solo, desenvolvimento industrial e as rotas a seguir.
Esta obra, conhecida como o livro das maravilhas, contribuiu para o alargamento do conhecimento do mundo dado que estas viagens permitiram aos europeus conhecer novos espaços culturais e povos.

Geografia no fim da Idade Média e no Renascimento
 
Mapa pictórico: publicado em Veneza, no ano de 1556. Este é um dos primeiros mapas a mostrar o Brasil individualmente. Este raro documento faz parte do Atlas Delle Navigazione e Viaggi, de Giovanni Battista Ramusio.

Parece ter havido um declínio na Geografia, como um todo, durante a Idade Média, que permaneceu até o reaparecimento da cartografia, no fim da Idade Média e início do Renascimento (século XV), impulsionando os primeiros tempos dos descobrimentos europeus. Apesar desses avanços, as tradições da astronomia e da Geografia, verdades da Antiguidade, estiveram presentes em muitos trabalhos de Geografia cristã, que continuaram a aparecer ainda no século XVII. Algumas dessas obras tentaram mostrar uma preocupação em manter o estudo do Universo como suporte da religião, reforçando, mais uma vez, a relação entre a ideia platônica do cosmo e os ensinamentos bíblicos sobre a história do mundo e isto também ocorreu com as obras geográficas. No fim da alta Idade Média, mesmo um pouco antes da passagem para o Renascimento (1100-1200), começaram a surgir estudiosos preocupados com uma nova maneira de se fazer ciência, ou, se preferirmos, uma maneira “séria” de se pensar. Naquele tempo, podem ser encontrados vestígios de um início de empirismo (conhecimento baseado nos sentidos) um considerável número de estudiosos repetia a ideia de Aristóteles de que “nada há no intelecto que não existia primeiro nos sentidos”. 

Idade Média, Renascimento e Iluminismo
"Nova Orbis Tabula in Lucem Edita" (Frederik de Wit, c. 1665)  

Devido à queda do Império Romano no Ocidente, o conhecimento geográfico greco-romano foi perdido na Europa. Porém, entre os séculos XI e XII foi preservado, revisto e ampliado por geógrafos muçulmanos da Península Arábica. Mas os acréscimos e acertos feitos pelos geógrafos árabes Edrisi, ibne Batuta e ibne Caldune foram ignorados pelos pensadores europeus. Durante as cruzadas, foram retomadas as primeiras teorias. Assim, os erros de Ptolomeu continuaram no Ocidente até as Grandes Navegações. As Grandes Navegações passaram a reabastecer a Europa de informações mais detalhadas e exactas sobre o restante do mundo. Em 1570, o cartógrafo flamengo Abraham Ortelius organizou diversos mapas num livro só. Seria este, talvez, o atlas mais antigo do mundo.

Uma importante personalidade que retomou os estudos de geografia foi o alemão Bernhardus Varenius (Bernhard Varen). O livro Geographia generalis (1650; Geografia geral) sofreu várias revisões. Este livro continuou sendo a principal obra de referência durante um século ou mais. O cartógrafo mais importante do século XVI também era de Flandres: Gerardus Mercator. Gerardus Mercator (Gerard de Cremer) ficou famoso por criar um novo sistema de projeções. O então cartógrafo aprimorou os sistemas de projecções que utilizavam longitudes e latitudes.
No século XVIII, James Cook fez a fixação de novos padrões precisos e técnicos em navegação. Foi responsável pelas viagens científicas. Na segunda viagem, circunvagou o globo. Esta viagem científica ocorrida entre 1772 e 1775 foi o mais famoso de seus itinerários. Na França foi criado o primeiro estudo de pesquisadores sobre topografia detalhada de um grande país. Este trabalho intelectual foi realizado entre os séculos XVII e XVIII por quatro gerações de especialistas em astronomia e profissionais de pesquisa da família Cassini. A partir do trabalho, o atlas nacional da França foi publicado pela primeira vez em 1791. 
Como muitos que o antecipavam, Alexander von Humboldt fez uma proposta de conhecimento sobre as demais partes do mundo. Apesar dessa proposta, acabou por fazer a distinção por dois objectivos. Primeiro, pela cautelosa elaboração que antecipava suas viagens bem-sucedidas. E, segundo, pela busca e exactidão de suas análises. São de especial interesse seus estudos sobre os Andes. Estes estudos foram feitos numa viagem às Américas Central e do Sul. Isso ocorreu entre 1799 e 1804. Inicialmente, foi feita uma descrição sistemática e inter-relacionada de cinco características. São elas: altitude, temperatura, vegetação e agricultura em montanhas que se localizam em regiões de latitude em direcção à linha do Equador.

Conclusão 
Terminado trabalho pudemos concluir que no que concerne à Geografia destacam-se, no seu processo de evolução, dois períodos distintos. O primeiro período começa na antiguidade helenística até ao século XIX, momento em que se inicia o segundo período que se prolonga até aos nossos dias, No primeiro período não se pode falar de uma verdadeira Geografia científica, mas sim, de um pensamento com incidências geográficas, resultado das influências de conhecimentos acumuladas nas diferentes épocas históricas.

O segundo período inicia-se com o grande salto qualitativo pela Geografia a partir do século XIX com a institucionalização da Geografia em 1870, graças aos trabalhos de cientistas alemães, particularmente o A. V. Humboldt, C. Ritter, os principais modeladores da Geografia moderna.

No presente trabalho abordamos mais sobre a Evolução do pensamento geográfico na Idade Média, também conhecida por idade das trevas, é marcada pelo recuo do conhecimento científico na Europa. Isto deveu-se à influência e predominância das explicações religiosas sobre as explicações científicas, de tal modo que as respostas às questões colocadas pelos estudiosos deixaram de ser dadas pela ciência e passaram a ser dadas pela bíblia. Embora na idade média o conhecimento geográfico tenha conhecido uma relativa estagnação na Europa ocidental, confinado ao domínio eclesiástico, foram produzidos os mapas OT (orbis terrarum). O povo árabe adoptou os conhecimentos greco-romanos e aperfeiçoou-os, traduzindo do grego a obra de Ptolemeu. Destacam-se também os viajantes árabes Al-Idrisi e Ibn-Batutha que contribuíram para o desenvolvimento do conhecimento geográfico e da cartografia. O desenvolvimento da navegação marítima conduziu ao abandono da cartografia religiosa e ao regresso à cartografia, real e utilitária. Surgiram, então, os mapas portulanos, que introduziram a rosa-dos-ventos, onde se procurava assinalar com exactidão os acidentes geográficos, como, por exemplo, cabos, baias e rios.
Referências Bibliográficas 
  • WILSON, Felisberto. G11 - Geografia 11ª Classe. 2ª Edição. Texto Editores, Maputo, 2017.
  • ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à análise do pensamento geográfico. 2.ed.São Paulo: Atlas, 1992.
  • FERREIRA, Conceição; SIMÕES, Natércia. A evolução do pensamento geográfico. 8.ed. Lisboa: Gradiva, 1994.
  • GEORGE, Pierre; GUGLIELMO, Raymond; LACOSTE, Yves; KAYSE, Bernard. A Geografia Ativa. Trad. Gil Toledo; Manuel Seabra; Nelson de la Corte, Vincenzo Bochicchio.4.ed. São Paulo: DIFEL, 1975.
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