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Paciente com HP - Sangramento vaginal

2.4.3. Diagnóstico
 A história clínica e o exame físico constituem partes importantes da avaliação da paciente com HP. É relevante levar em consideração os fatores de risco. A visibilização do volume de sangramento auxilia no diagnóstico, mas pode haver alguma dificuldade nos casos de acúmulo de sangue na cavidade uterina, hematomas ou na cavidade peritoneal. Os sintomas relatados pela paciente dependerão da gravidade do caso, tais como: fraqueza, tonturas, sudorese, náuseas e perda da consciência, (Sass,2013).
 O exame clínico da paciente deve incluir o exame físico geral (com verificação dos sinais vitais) e específico, com ênfase no exame abdominal e pélvico. Podem ser detectados sinais de hipovolemia, a depender do volume de sangramento. A palpação abdominal pode revelar dor, distensão e sinal de Blumberg positivo quando há sangue na cavidade peritoneal. Nos casos de atonia uterina, o útero está acima da cicatriz umbilical, com consistência amolecida. O toque vaginal pode revelar grande quantidade de coágulos, (Sass,2013).

Quando o sangramento permanece aumentado apesar da contratilidade uterina normal, revisão cuidadosa do canal de parto (com instrumental e luz adequados) deve ser realizada na busca por lacerações cervicais, vaginais ou vulvares que tenham passado despercebidas após o parto vaginal. O reconhecimento imediato da inversão uterina é importante, pois o atraso desse diagnóstico pode agravar o prognóstico. Um útero invertido aparece como uma massa azul acinzentada que adentra a vagina. A suspeita de rotura uterina, em paciente com cicatriz de cesárea prévia, pode ser confirmada com a palpação do segmento uterino inferior, por meio do toque vaginal bimanual e exploração da cavidade uterina. Lembrar que nesses casos o comprometimento hemodinâmico da paciente não é condizente com a perda de sangue visível, (Sass,2013).

Os hematomas de trajeto podem ser vistos como massas arroxeadas que fazem protrusão na luz vaginal ou períneo. Nos casos em que a dequitação placentária já ocorreu, o útero apresenta contratilidade normal e não foram detectadas lesões do trajeto, a cavidade uterina deverá ser explorada manualmente ou por instrumental com o objetivo de identificação de restos placentários. Pacientes com coagulopatia podem ser identificadas por não responderem aos tratamentos usuais, não formarem coágulos e por apresentarem sangramento nos locais de punção e incisões, (Sass,2013).
Os exames complementares comumente solicitados na avaliação do sangramento genital são os mostrados abaixo. a) Hemograma: a dosagem de hemoglobina e o hematócrito podem auxiliar na avaliação do volume de sangramento e necessidade de hemotransfusão. Plaquetopenia pode estar associada a situações de coagulopatia de consumo. b) Tipo sanguíneo e triagem de anticorpos: exames obrigatórios, pela eventual necessidade de transfusão sanguínea. c) Coagulograma: indicado para avaliação de coagulopatia, (Sass,2013).

2.4.4. Tratamento
 O tratamento de HP se inicia com o reconhecimento do sangramento excessivo e aplicação das medidas de suporte materno, que incluem a obtenção de ajuda, garantia de permeabilidade das vias aéreas, administração de O2, instalação de acessos venosos calibrosos para infusão de cristalóides, de drogas e obtenção de exames laboratoriais, (Sass,2013).

A reposição de cristalóides costuma ser de 3 ml para cada ml de sangue perdido. Portanto, se a puérpera apresentar sinais esintomas de hipovolemia (perda de sangue superior a 1000 ml), a reposição de solução salina isotônica ou Ringer Lactato poderá ser de 3000 ml. Se a perda aguda for superior a 25%, administrar cristalóides e colóides, (Sass,2013).
Simultaneamente a essas condutas, a equipe médica deve identificar as causas específicas da HP e instituir tratamento adequado; 

• A outra mão deve ser colocada na parede abdominal, sobre o fundo uterino, comprimindo-o contra a mão vaginal e massageando-o até obter aumento de sua contratilidade. Ao mesmo tempo, agentes ocitócicos devem ser utilizados para estimular contrações uterinas. A ocitocina é a droga de primeira escolha por ter ação mais fisiológica, (Sass,2013).
Outras drogas poderão ser utilizadas quando a contratilidade uterina adequada não for alcançada com a ocitocina. Os alcaloides do ergot constituem a segunda opção como droga ocitócicas e são representados pela metilergonovina e a ergometrina. As prostaglandinas são as drogas de terceira escolha e o misoprostol é o seu representante mais comum. O ácido tranexâmico endovenoso é recomendado para o tratamento da hemorragia caso a ocitocina e outros uterotônicos não consigam interromper a hemorragia ou se houver risco de ser resultante de lesão traumática, (Sass,2013). 

Pacientes com sinais persistentes de perda sanguínea ou com hematomas em expansão devem ser abordadas cirurgicamente, havendo incisão da área, retirada dos coágulos e ligadura do vaso sangrante. Nos casos com diagnóstico de inversão uterina, essa deve ser corrigida rapidamente, com reposicionamento do útero na cavidade abdominal pela manobra de Taxe. Em algumas situações, para que se consiga a correção da inversão, há necessidade de relaxar a musculatura uterina com agentes tocolíticos ou anestesia geral, (Sass,2013).

Para realizar curagem uterina: 
• Sempre anestesiar a paciente e relaxar a musculatura uterina; 
• Introduzir a mão na cavidade uterina e identificar o plano de clivagem entre a placenta e o útero, apreendendo os cotilédones soltos; 
• Tentar retirar a placenta na íntegra; 
• Limpar a cavidade uterina com gazes envoltas nos dedos exaustivamente e, se necessário, com curetas. IV. 

Um outro ponto, é a contagem de plaquetas que deve ser mantida em valores superiores a 50.000/mm3 . Cada unidade de plaquetas aumenta a contagem em 5.000 – 10.000 plaquetas. Com relação à transfusão de hemácias, esta deve ser realizada sempre que a gravidade da perda volêmica for moderada ou grave, se os níveis de hemoglobina forem inferiores a < 8 g/dl ou hematócrito inferior a 30%. Cada unidade aumenta de concentrado de hemácias aumenta a hemoglobina em 1,0 g e o hematócrito em 3%. Após uma hora de tentativas de interrupção do sangramento puerperal excessivo sem sucesso, avaliar a realização de condutas invasivas tais como: tamponamento uterino com compressas ou sondas, suturas uterinas hemostáticas, ligadura de vasos (artérias hipogástricas, uterinas) ou histerectomia, (Sass,2013).


3.Conclusão 
O sangramento genital durante o ciclo gravídico-puerperal é queixa comum e sintoma responsável por inúmeras consultas obstétricas de urgência. A hemorragia obstétrica é a principal causa de mortalidade materna no mundo e causa importante de admissão de paciente obstétrica ao centro de terapia intensiva, além de estar associada à elevada morbimortalidade perinatal. O diagnóstico diferencial é essencial para garantir a qualidade do atendimento da paciente com esse tipo de intercorrência. Nesse capítulo serão abordadas as principais causas de hemorragia anteparto e puerperal.
as hemorragias da segunda metade da gestação são causadas pelo descolamento da placenta normalmente inserida, placenta prévia e rotura uterina. No período puerperal, as etiologias das hemorragias são a atonia uterina, as lacerações de trajeto de parto, a retenção placentária e as coagulopatias.
Várias são as possíveis causas de sangramento. Entre as causas obstétricas, as mais importantes são o descolamento prematuro de placenta e a placenta prévia, que correspondem a até 50% dos diagnósticos. Não podem ser esquecidas a rotura uterina e a rotura da vasa prévia, que também são importantes causas obstétricas. Entre as causas não obstétricas, pode ocorrer o sangramento proveniente do colo do útero durante a dilatação no trabalho de parto, cervicites, pólipo endocervical, ectrópio, câncer de colo de útero e trauma vaginal. Os prognósticos materno e fetal vão depender do diagnóstico correto da causa do sangramento e conduta adequada com base nesse diagnóstico.





4. Referências Bibliográficas 
  • www.semnegativa.blogspot.com
  • Ministério da Saúde. Gestação de Alto Risco. Secretaria de Políticas, Área Técnica da Saúde da Mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. 
  • Ministério da Saúde. Manual Técnico: Pré-Natal e Puerpério Atenção Qualificada e Humanizada. Brasília-DF.2006. 
  • Ministério da Saúde. Profissionalização de auxiliares de enfermagem: Cadernos do aluno: saúde da mulher, da criança e do adolescente. 2. ed., 1.a reimpr. Brasília: Ministério da Saúde; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. 
  • BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2012. 
  • CORRÊA JÚNIOR MD, MELO VH Projeto Diretrizes. Rotura Prematura das Menbranas. Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia. 2 de fevereiro de 2008.
  •  FORTES, J. I. et al. Curso de especialização profissional de nível técnico em enfermagem – livro do aluno: urgência e emergência. São Paulo: FUNDAP, 2010. 
  • GOLINO P. Silva, CHEIN MB da Costa, BRITO LM Oliveira. Ruptura Prematura de Menbranas; Fisiopatologia, Diagnóstico e Conduta. FEMINA, v. 34 n 10, 2006. 
  • RIBEIRO, G. G.; ALENCAR JÚNIOR, C. A. Protocolos de condutas em obstetrícia. 2014. REZENDE, J.; MONTENEGRO, C. A. B. Obstetrícia Fundamental. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 
  • SASS, N.; OLIVEIRA, L. G. OBSTETRÍCIA. Editora Guanabara Koogan, 1 ed. Rio de Janeiro,2013. 
  • VASCONCELLOS MJA, et al. Projetos Diretrizes .Hipertensão na Gravidez. Revista Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia. 29 de julho 2002


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Placenta Prévia - Sangamento vaginal

Introdução 
O sangramento vaginal anteparto é considerado uma importante causa de risco materno e fetal. Em virtude disso é fundamental seu rápido reconhecimento e conduta. Durante a segunda metade gestação, as principais causas de hemorragia vaginal são descolamento prematuro de placenta e placenta prévia
As hemorragias na segunda metade da gestação constituem-se em frequentes diagnósticos em obstetrícia. São uma das principais causas de internação de gestantes no período anteparto, com importante aumento da morbimortalidade materna e perinatal, assim como de partos operatórios. 
A morbimortalidade perinatal está relacionada principalmente aos altos índices de prematuridade. Várias são as possíveis causas de sangramento. Entre as causas obstétricas, as mais importantes são o descolamento prematuro de placenta e a placenta prévia, que correspondem a até 50% dos diagnósticos. Não podem ser esquecidas a rotura uterina e a rotura da vasa prévia, que também são importantes causas obstétricas. Entre as causas não obstétricas, pode ocorrer o sangramento proveniente do colo do útero durante a dilatação no trabalho de parto, cervicites, pólipo endocervical, ectrópio, câncer de colo de útero e trauma vaginal. Os prognósticos materno e fetal vão depender do diagnóstico correto da causa do sangramento e conduta adequada com base nesse diagnóstico.


2.1.Placenta Prévia 
 2.1.1. Conceito e Classificação 
A inserção placentária deve ser classificada em alta ou baixa, levando-se em consideração a distância entre o bordo da placenta e o orifício cervical interno. Quando essa distância é superior ou igual a 20mm a placenta apresenta inserção alta e, quando é inferior a 20mm, a inserção é baixa (anteriormente denominada placenta marginal), (CORREA, 2010)
A placenta prévia é definida quando o tecido placentário total ou parcialmente inserido no segmento inferior do útero, se estende sobre o orifício cervical interno, de forma parcial ou total, após 28 semanas de gestação. (Anteriormente denominada placenta prévia centro-total ou centro-parcial), (CORREA, 2010).

2.1.2. Manifestações Clínicas 
As manifestações clínicas são secundárias à migração placentária, contrações e dilatação cervical e se caracterizam por sangramento genital intermitente, imotivado, recorrente e de volume variável; dor ausente (80%) ou associada a contrações (20%); útero normotenso ou com contrações periódicas. Como a área de placenta descolada geralmente é pequena, o comprometimento hemodinâmico materno e fetal são infrequentes, assim como a ocorrência de coagulopatia. Apenas 10% das pacientes atingem o termo da gestação sem sintomas, (CORREA, 2010).
De acordo com a proximidade da placenta ao Orifício Interno, a placenta previa pode ser classificada em: 

  • Placenta prévia centro total: a placenta recobre completamente o Orifício Interno; 
  • PP centro parcial: a placenta recobre o Orifício Interno parcialmente; 
  • PP marginal: a borda placentária coincide com borda do Orifício Interno; 
  • PP lateral: a borda placentária dista até 2,0 cm do Orifício Interno. 
Devido à migração placentária, uma placenta só poderá ser denominada prévia após a 28ª semana de gestação. Este fenômeno é secundário ao crescimento proporcionalmente maior do segmento inferior em relação ao corpo do útero, a atrofia por vascularização deficiente da região de implantação placentária e a descolamentos da borda e necrose da placenta. Placentas inseridas no segmento uterino inferior, diagnosticadas antes de 28 semanas, recebem o nome de placentas de inserção baixa. PP podem ainda estar anormalmente aderidas ao útero, em uma condição chamada acretismo placentário, (CORREA, 2008).
Uma placenta é acreta quando invade a camada basal da decídua, increta quando invade o miométrio e percreta quando vai além do miométrio até serosa uterina ou outros órgãos. 

2.1.3. Diagnóstico  
O diagnóstico de Placenta Prévia é aventado pelo quadro clínico e ultrassonográfico. Este diagnóstico deve ser considerado em todas as mulheres grávidas, na segunda metade da gestação, que apresentam sangramento vaginal indolor. Em algumas situações, a paciente procura o pronto atendimento com sangramento após relação sexual, em casos de placenta em proximidade ao Orifício Interno do colo e hipervascularização deste. Por outro lado, PP com grandes áreas de acretismo podem não sangrar, não sendo por isso, menos graves (Ribeiro, 2006).

Além dos sinais e sintomas obstétricos associados à Placenta Prévia, sintomas de hipovolemia podem estar presentes dependendo da gravidade do caso. No exame clínico geral da paciente atentar para os sinais de perda volêmica e de coagulopatia, que são mais raros na Placenta Prévia. O exame obstétrico demonstra útero normotenso e sangramento genital em quantidade variável (pequeno a moderado volume), que se exterioriza em sua totalidade por via vaginal. Alterações na frequência cardíaca fetal são infrequentes. O exame especular e o toque vaginal devem ser realizados por profissional experiente, devido ao risco de sangramento adicional provocado por um exame intempestivo. O diagnóstico definitivo da PP é ultrassonográfico, de modo que este exame complementar é imprescindível para confirmá-lo, (Ribeiro, 2006).

Outros exames auxiliam na avaliação do comprometimento sistêmico da paciente. Como a, 1) ultrassonografia, deve sempre ser transvaginal para melhor visibilização do colo e do segmento placentário próximo a este. Sinais de acretismo devem ser pesquisados e são representados por, adelgaçamento ou perda do espaço hipoecogênico miometrial retroplacentário, espaços anecóides intraplacentários (“lacunas”), protrusão da placenta para o interior da bexiga ou outro órgão, presença de fluxo turbulento nas lacunas placentárias e aumento da vascularização na interfase placenta – serosa ou bexiga/outro órgão. 2) Ressonância Nuclear Magnética; este exame deverá ser solicitado como complementação do exame ecográfico, se as condições maternas e fetais estiverem estáveis. Entretanto, a sensibilidade e especificidade desse método para o diagnóstico de acretismo ainda são baixas. 3) Hemograma, tipo sanguíneo e triagem de anticorpos, coagulograma, função hepática e renal. (Ribeiro, 2006).

2.1.4. Tratamento  
De acordo com Ribeiro (2006), o diagnóstico da Placenta Prévia associada a sangramento genital requer internação imediata. As condutas clínicas e obstétricas devem ser tomadas simultaneamente, com monitorização materna e fetal rigorosa. Medidas de suporte de vida materno devem ser tomadas. A conduta obstétrica dependerá da idade gestacional, do tipo de Placenta Prévia, do volume de sangramento e atividade uterina, das condições maternas e fetais. 

1- Gestações com menos de 36 semanas:
Boas condições maternas e fetais: prescrever repouso materno, induzir maturidade pulmonar fetal com Betametasona, 12 mg intramusculares ao dia, por dois dias consecutivos (se idade gestacional entre 28 e 34 semanas); realizar tocólise na eventualidade de contrações uterinas (se idade gestacional inferior a 34 semanas) e manter avaliação rigorosa da vitalidade fetal e materna. A resolução da gestação deverá ser realizada na maturidade fetal; Comprometimento materno e/ou fetal: resolução da gestação imediata por parto cesárea, independente da idade gestacional. 

Gestações com 36 semanas ou mais, assintomáticas:  Placenta Prévia centro total: cesárea eletiva com 37 semanas;  Placenta Prévia centro parcial, marginal e lateral: a conduta deve ser expectante, a fim de que o trabalho de parto se estabeleça espontaneamente. Apesar dos altos índices de cesárea associados a estes casos, a via vaginal é uma opção permitida, havendo a necessidade de internação precoce e controle rigoroso das condições maternas e fetais durante o trabalho de parto.  Na eventualidade de sangramento importante durante o trabalho de parto, a amniotomia pode ser realizada para que a apresentação fetal desça no canal de parto e comprima a placenta. Isto impedirá progressão do descolamento e permitirá compressão da área sangrante. Caso haja comprometimento materno ou fetal em qualquer momento, a cesárea está indicada.
 
Placenta Prévia com acretismo: realizar cesárea com histerectomia total. Realizar incisão uterina em fundo uterino para extração fetal. Não tentar a dequitação placentária, pois a demora na decisão de uma histerectomia ou de ressecar parcial um órgão invadido pela placenta pode levar a aumento da morbimortalidade materna. É prudente que estes casos sejam abordados por equipe experiente, em serviços terciários com suporte hemoterápico e da radiologia intervencionista (introdução de balões oclusivos temporários das artérias ilíacas). Caso o diagnóstico de acretismo seja realizado no intraoperatório, em serviço sem essas condições, não se deve tentar "arrancar" a placenta. Se a paciente não estiver sangrando, a sua transferência para centros maiores deverá ser realizada após histerorrafia e fechamento da cavidade abdominal.

2.2. Descolamento Prematuro De Placenta Normalmente Inserida (Dppni)
2.2.1. Conceito 
Separação da placenta implantada no corpo ou fundo uterino antes da expulsão fetal em gestação de 20 semanas ou mais. Esta enfermidade se associa a maior incidência de coagulopatia, hemotransfusão, histerectomia e infecção puerperal, (Golino et al,2006).
O hematoma proveniente da rotura de vasos da decídua materna disseca a interface decídua – placenta, levando ao descolamento, prejuízo das trocas de gases e nutrientes e comprometimento fetal progressivo. Os principais fatores de risco associados a esta doença são: hipertensão, idade materna avançada, multiparidade, uso de cocaína, tabagismo, trauma, corioamniorrexe, trombofilias, leiomiomas, antecedente de DPPNI e uso indevido de drogas ocitócicas (Golino et al,2006).

2.2.2. Manifestações Clínicas 
O quadro clínico clássico do DPPNI é caracterizado por forte dor abdominal de início súbito, constante, concomitante a aumento do tônus uterino (hipertonia uterina ou taquissistolia) e sangramento genital em quantidade variável (20% dos casos apresentam hematoma retroplacentário, sem sangramento externo), (Golino et al,2006).
 O aumento da contratilidade uterina é resultado da irritação das fibras musculares por sangue. Quando maior a pressão intrauterina e a dimensão do coágulo retroplacentário, maior o risco do útero de Couvelaire, representado por um útero com miométrio infiltrado por sangue, com desorganização de sua estrutura e consequente atonia puerperal. No DPPNI ainda é comum a ocorrência de comprometimento fetal representado por desacelerações da frequência cardíaca fetal ou óbito, (Golino et al,2006).
Além destes achados obstétricos, podem ser encontrados sinais e sintomas de perda volêmica e de coagulopatia (petéquias, equimoses, hematomas, gengivorragia, epistaxe, hematúria e/ou sangramento por incisões e punções). De acordo com Misau (2012), o DPPNI poderá ser classificado em 3 graus: 
  • Grau I (“descolamento crônico”): quadro leve caracterizado por sangramento discreto, aumento da atividade, sem comprometimento materno ou fetal;
  • Grau II: quadro clínico clássico com dor, hipertonia uterina, sangramento moderado a intenso, comprometimento variável e feto vivo, mas frequentemente com comprometimento da frequência cardíaca; 
  • Grau IIIa: quadro clínico materno clássico, com feto morto, mas sem coagulopatia; • Grau IIIb: quadro clínico materno clássico, com feto morto, mas com coagulopatia. 
2.2.3. Diagnóstico 
O diagnóstico de DPPNI deve ser considerado em todas as mulheres grávidas, na segunda metade da gestação, que apresentam sangramento vaginal e dor abdominal. É consenso que a história clínica e o exame físico constituem partes importantes da avaliação dessas pacientes e, devido à gravidade que geralmente acompanha os casos, devem ser realizados ao mesmo tempo. Outros sintomas podem se citados dependendo da gravidade do caso, tais como: fraqueza, tonturas, sudorese e perda da consciência, (Misau,2006).
Nas situações mais graves, a paciente pode chegar ao serviço inconsciente e todas as informações deverão ser obtidas de outros profissionais de saúde e familiares. No exame clínico geral da paciente podem estar presentes sinais de hipovolemia, tais como palidez, taquicardia, hipotensão arterial, agitação, torpor e choque e de coagulopatia. O exame obstétrico demonstra hipertonia uterina, alterações na frequência cardíaca fetal e sangramento genital em quantidade variável. Poderá haver discrepância entre o volume de sangramento exteriorizado e os sinais clínicos de perda volêmica, nos casos de hematomas retroplacentários, (Misau,2012).
Na ausência de informação sobre a topografia da placenta, o exame especular e o toque vaginal devem ser realizados por profissional experiente. Quadros iniciais podem dificultar o diagnóstico e devem ser valorizados, mantendo-se observação e controle cuidadoso da paciente. O diagnóstico do DPPNI é clínico, de modo que os exames complementares auxiliam nos casos duvidosos de menor gravidade na avaliação do comprometimento sistêmico da paciente, (Misau,2012):

  1. Ultrassonografia: exame auxiliar nos casos de “descolamento crônico”, nos quais é possível detectar coágulo retroplacentário, espessamento ou elevação da borda da placenta. Porém, a sensibilidade do ultrassom para estes achados é extremamente baixa. Sua importância se faz no diagnóstico diferencial com a placenta prévia. b) Hemograma: a dosagem de hemoglobina e o hematócrito podem auxiliar na avaliação do volume de sangramento. Plaquetopenia pode estar associada a situações de coagulopatia. c) Tipo sanguíneo e triagem de anticorpos: exames obrigatórios, pela eventual necessidade de transfusão sanguínea e prevenção de aloimunização Rh. d) Coagulograma: indicado para avaliação de coagulopatia. 

Devem ser avaliados: Tempo de Protrombina (relação TP paciente/TP controle, RNI até 1,2), Tempo de Tromboplastina Parcial Ativado (relação TTPA paciente/TTPA controle, R até 1,25), dosagem de fibrinogênio (normal de 150 a 300 mg/dl) e dos produtos de degradação da fibrina (< 20 μg/ml). Na impossibilidade de se determinar os testes específicos de coagulação ou se não houver retaguarda laboratorial rápida, recomenda-se a realização do teste de Wiener: coleta-se cerca de 10 ml de sangue em um tubo seco, deixando-o em repouso na temperatura ambiente por 10 minutos(Golino et al,2006). 
Se houver formação de coágulo firme e estável, o fibrinogênio é superior a 100 mg/dl e o risco de coagulopatia é pequeno. Caso a formação seja débil ou não ocorra, iniciar o tratamento antes do coagulograma. 
 
2.2.4. Tratamento
 O diagnóstico requer internação imediata, com aplicação de condutas clínicas e obstétricas simultaneamente. É necessária monitorização rigorosa dos sinais vitais maternos e da frequência cardíaca fetal, (Fortes et al,2010). 
Medidas de suporte de vida devem ser tomadas, tais como: manter a paciente em jejum, manter as vias aéreas livres, fornecer O2, realizar venóclise em vaso calibroso (Abocath 18) e hidratação endovenosa com soro fisiológico 0.9% ou Ringer Lactato (manter débito urinário maior que 30 ml/hora), avisar o banco de sangue sobre possibilidade de transfusão sanguínea, realizar coleta de exames para pesquisa de anemia e coagulopatia e efetuar reposição de hemoderivados quando necessária, o mais rápido possível, (Fortes et al,2010). 

A conduta obstétrica dependerá da classificação do DPPNI, da idade gestacional, das condições maternas e fetais, (Fortes et al,2010);
  • DPPNI grau I: • Feto pré-termo: induzir maturidade pulmonar fetal com Betametasona, 12 mg intramusculares ao dia, por dois dias consecutivos (se idade gestacional entre 28 e 34 semanas), realizar tocólise na eventualidade de contrações uterinas (se idade gestacional inferior a 34 semanas) e manter avaliação rigorosa da vitalidade fetal e materna. A resolução da gestação deverá ser realizada na maturidade fetal, se as condições maternas e fetais forem boas. Do contrário, o parto deverá ser realizado em qualquer idade gestacional. 
  • Feto com idade gestacional superior a 36 semanas: resolução da gestação. Priorizar a via vaginal, se a vitalidade fetal estiver preservada e não houver contraindicações maternas a ela. 
  • DPPNI grau II: resolução da gestação, independente da idade gestacional. A via de parto deverá ser a mais rápida, podendo ser a vaginal se houver a possibilidade de ultimar o parto imediatamente. A amniotomia deve ser realizada (se a dilatação cervical permitir), mesmo que a resolução se faça por cesárea, visto que diminui a velocidade de descolamento e a área de sangramento, além de reduzir a pressão intrauterina, minimizando os riscos de coagulopatia. 
  • DPPNI grau III: resolução da gestação. Os distúrbios maternos deverão ser corrigidos e o parto poderá ser vaginal, desde que as condições maternas sejam estáveis e a previsão de resolução não se estenda para além de 6 horas. Sempre realizar amniotomia. Ocitocina poderá ser administrada para acelerar a evolução do trabalho de parto

2.3. Rotura Uterina 
2.3.1. Conceito
 Rotura uterina consiste na perda de continuidade completa ou incompleta da parede uterina, podendo ocorrer antes ou durante o trabalho de parto. É um indicador da qualidade da assistência obstétrica prestada por um serviço. A incidência da rotura uterina é maior em países em desenvolvimento, onde existem altas taxas de cesárea, multiparidade e uso iatrogênico e sem monitorização adequada de agentes ocitócicos no trabalho de parto. Outros fatores de risco importantes são: a existência de cicatrizes de cirurgias uterinas prévias (além da cesárea), desproporção céfalo-pélvica não diagnosticada devido à falta do partograma e os traumas uterinos, (Vasconcellos et al, 2002). 

2.3.2. Manifestações Clínicas
 De acordo com Vasconcellos et al (2002), as manifestações clínicas da rotura uterina são precedidas pelo quadro clínico de iminência de rotura uterina, na grande maioria dos casos, fato este que facilita sua prevenção. São sinais e sintomas de iminência: 
  • Presença de contrações subentrantes intensas e excessivamente dolorosas;
  • Presença do sinal de Bandl: anel transverso próximo à cicatriz umbilical que separa o corpo do Segmento inferior do útero; 
  • Presença do sinal de Frommel: retesamento dos ligamentos redondos, que podem ser palpados nas fossas ilíacas da paciente. A dor apresentada pela paciente passa por diversos estágios a depender do momento considerado. No momento da rotura uterina, a dor abdominal que antes era significativa e agravada pelas contrações uterinas, sofre aumento abrupto e torna-se lancinante no hipogástrio, sendo seguida por acalmia dolorosa transitória. A seguir, ocorre retorno de dor contínua relacionada à irperitoneal. 
Sangramento genital poderá ocorrer e sua intensidade dependerá da extensão da rotura e dos vasos atingidos, assim como sinais e sintomas de hipovolemia. Outros sinais que sucedem a rotura são a paralisação do trabalho de parto, a subida da apresentação fetal no canal de parto, a palpação de massas abdominais (feto na cavidade abdominal) e, menos frequentemente crepitação subcutânea (Sinal de Clark). Comprometimento da vitalidade fetal é frequente, havendo elevada morbimortalidade perinatal caso o diagnóstico seja postergado (Vasconcellos et al, 2002). 

2.3.2. Diagnóstico
 O diagnóstico de rotura uterina é clínico. É muito importante prestar assistência obstétrica de qualidade para que o diagnóstico de iminência de rotura uterina e a pronta intervenção sejam realizados na totalidade dos casos. Para se atingir esses objetivos, os fatores de risco maternos devem ser valorizados. A paciente com iminência de rotura é extremamente agitada e queixa-se de muita dor (Sass,2013).
Quando a mesma é atendida após a rotura, a falsa impressão de melhora do quadro álgico pode confundir o médico pouco experiente. No exame clínico geral da paciente atentar para os sinais de perda sanguínea. O exame obstétrico demonstra útero de difícil delimitação e palpação de massas abdominais anormais. O sangramento genital é variável, com a maior parte da hemorragia sendo direcionada à cavidade peritoneal. Alterações na frequência cardíaca fetal variam de bradicardias à ausência, (Sass,2013).

O exame especular nem sempre é realizado devido à emergência do caso e o toque vaginal auxilia o diagnóstico apenas quando a rotura uterina se dá no trabalho de parto avançado, após a insinuação da apresentação fetal. Exames complementares devem ser solicitados para auxiliar na avaliação do comprometimento sistêmico da paciente, tais como:
a) Ultrassonografia: a realização deste exame não deve, de forma alguma, retardar a instituição do tratamento. A ecografia pode ser realizada em situações em que existem dúvidas diagnósticas e estabilidade hemodinâmica materna e fetal, podendo-se detectar líquido livre em cavidade peritoneal, perda de continuidade na avaliação da parede uterina e feto/partes fetais fora do útero, (Sass,2013).
 b) Hemograma, tipo sanguíneo e triagem de anticorpos, coagulograma, função hepática e renal: as indicações para solicitação desses exames são as mesmas citadas nos itens DPPNI e PP, ou seja, para avaliação de coagulopatia e devido a possibilidade de hemotransfusão. 

2.3.3.Tratamento 
O diagnóstico de iminência de rotura uterina requer intervenção imediata, com resolução da gestação por parto cesárea de emergência. Nos casos em que já houve a rotura, as condutas clínicas e obstétricas devem ser tomadas simultaneamente, visando estabilização hemodinâmica materna e parto imediato por laparotomia exploradora, (Vasconcellos et al, 2002).
A incisão na parede abdominal deverá ser mediana e a anestesia deverá ser administrada pela via mais rápida. Após a extração fetal e dequitação placentária, está indicada a correção cirúrgica da rotura uterina. Suturas da rotura uterina e manutenção do útero ficam reservadas para pacientes jovens que desejam mais filhos, roturas de pequena extensão e não complicadas. Nas roturas extensas ou associadas à hemorragia de difícil controle e nas roturas de diagnóstico tardio com infecção instalada, a histerectomia está indicada. Algumas roturas provocam grandes hematomas de ligamento largo e retroperitônio, (Vasconcellos et al, 2002).
A princípio, hematomas retroperitoniais não devem ser manipulados. Órgãos vizinhos aderidos ao útero podem ser lesados na rotura e a correção cirúrgica dessas lesões deverá ser efetuada por profissional experiente. Caso o útero seja conservado, esterilização definitiva deverá ser discutida com a paciente no puerpério, (Vasconcellos et al, 2002).

2.4. Hemorragia Puerperal (Hp) 
2.4.1. Conceito 
Hemorragia puerperal é a principal causa de mortalidade materna no mundo, mesmo em países desenvolvidos. Para que haja redução dos índices e complicações relacionadas a esta enfermidade torna-se necessária abordagem multidisciplinar rápida da paciente, por pessoal capacitado, com material adequado disponível e protocolos de fácil acesso, (Sass,2013). 
Apesar do conhecimento dos principais fatores de risco para HP e de estratégias de prevenção claramente documentadas, grande parte dos casos não são previsíveis ou evitáveis. Classicamente, HP corresponde à perda sanguínea maior que 500 ml após parto normal e superior a 1000 ml após cesárea. Na prática, a HP pode ser definida como a perda sanguínea suficiente para tornar a paciente sintomática e/ou com sinais de hipovolemia. Algum autor tem utilizado a queda superior a 10% do valor do hematócrito pré-parto para diagnosticar HP. A HP pode ser primária, quando ocorre nas primeiras 24 horas do puerpério, ou tardia quando presente após esse período (até a 6ª semana), (Sass,2013).

2.4.2. Manifestações Clínicas 
As manifestações clínicas da HP dependerão do volume de perda sanguínea. Em geral, perdas de sangue de 500 a 1000 ml são bem toleradas, sem sintomas ou alterações nos sinais vitais. Segundo o Colégio Americano de Cirurgiões (2004), perdas sanguíneas superiores a 15% do volume circulante materno (> 1000 ml) estão associadas a mudanças no quadro clínico.

Continua no próximo post

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