Estrutura Socioeconómica e Ideológica dos Marave
Introdução
O termo Marave está ligado a formação etnolinguística e pouco se sabe sobre a sua origem. E provável que o termo esteja ligado apenas ao clã Phiri. Na actualidade, um distrito da província de Tete ainda remete para essa ocupação passada, Marávia. Os Maraves eram um conjunto de pequenos reinos que existiram no Norte do Zambeze, zona de Tete, desde o século XVI ate ao XIX.
Estrutura Socioeconómica e Ideológica dos Marave
A Estrutura Socioeconómica
A sociedade Marave estava dividida entre as chefias da administração e os camponeses que cultivavam a terra, criavam o gado, trabalhavam nas minas, caçavam os elefantes. Havia nesta sociedade uma nítida distinção social com base na riqueza económica de cada um.
Os chefes, nas suas diferentes esferas de poder (aldeia, território, província e supremo) eram a população mais rica, quer porque administravam a exploração das produções e o comércio, quer porque recebiam tributos.
No caso do Estado de Undi a classe dominante recebia tributos regulares e tributos rituais (primícias das colheitas) (...)
Os chefes recebiam ainda taxas pela resolução de disputas e taxas de trânsito pelo território.
História de Moçambique, vol. 1, p. 49
O capital mercantil teve o seu impacto nos Estados Marave. Os produtos produzidos nos Estados Marave e comercializados sobretudo com os estrangeiros tiveram um duplo efeito. Por um lado, ajudaram as chefias locais a enriquecer e a tornar-se, consequentemente, mais poderosas mas, por outro lado, foram os responsáveis pelas intrigas internas. São exemplos disso as lutas entre os Karonga e os Lunciu e a consequente expansão Nyanja.
EXEMPLOS DE TRIBUTOS REGULARES PAGOS AOS CHEFES UNDI
- Marfim
- Tabaco
- Géneros alimentares
- Partes de animais caçados
- Utensílios de ferro
- Cestos
- Esteiras
- Panos
Ideologia
A religião na sociedade Marave desempenhava um papel importante em matéria de controlo político. Os mediuns espíritas gozavam de um estatuto mais elevado do que os próprios imperadores, pois tinham por função aconselhar o soberano sobre todos os assuntos do Estado.
O culto do mlira constitui um dos mecanismos institucionais para assegurar a coesão social do Estado Kalonga. Uma vez por ano, na capital do Estado, os Marave celebravam a veneração ritual de mlira, o espírito Kalonga, condutor de seus ancestrais ao país de migração provenientes do Norte, reunindo chefes das várias linhagens reais Phiri. Esta manifestação era um ritual de realeza que tinha como função a integração no seio do Estado Marave.
Os Marave praticavam cultos ligados a fertilidade das terras, a invocação da chuva e ao controlo das cheias. Estes cultos designados por Chisumpi eram dedicados a veneração de espíritos naturais e o Muári dedicado a entidades supremas.
Chisumpi
São um conjunto de cultos dos Ma rave dedicados a veneração de espíritos naturais.
Muári ou Muáli
São a divindade suprema entre os povos de língua Shona. Alguns autores dizem que está associado ao culto dos antepassados Marave dedicado a entidades supremas.
Decadência dos Marave
O declínio dos Marave não foi repentino; foi acontecendo, motivado, essencialmente, por factores comerciais e sociais. A decadência Marave começa em meados do século XVII, mas foi acentuada pela “invasão” de mercadores no final do século XVIII.
No século XIX as rotas comerciais Marave são substituídas pelas rotas dos Ajaua. E o aparecimento dos Nguni, oriundos do movimento do M’fecane, a partir de 1835, com a ocupação de terras Maraves, acabou por ditar o fim destes Estados.
Conclusão
Fim do trabalho, obteve-se como primeira conclusão, o seguinte: a estrutura social e económica da sociedade dos Marave estava dividida em chefes e camponeses que cultivam a terra. Havia nesta sociedade uma nítida distinção social com base na riqueza económica de cada um.
Obteve-se como conclusão também que a religião na sociedade Marave desempenhava um papel importante em matéria de controlo político. A decadência dos Marave não foi repentina; foi acontecendo, motivado, essencialmente, por factores comerciais, sociais e pela “invasão” de mercadores no final do século XVIII.
Bibliografia
- NHAPULO, Telésfero de Jesus, História 12ª classe, Plural Editores, Maputo, 2013