As Comunidades de Caçadores e Recolectores: os Khoisan
As Comunidades de Caçadores e Recolectores: os Khoisan
Antes do povoamento Bantu em Moçambique, extensas áreas do nosso território eram ocupadas por comunidades de caçadores e recolectores, os Khoisan ou seja comunidade de Bosquimanos e Hotentotes. Na África Austral, os povos com estas características foram os Khoi-Khoi e Sans ou Khoisan ou comunidade de Bosquimanos e Hotentotes. Os primeiros eram de estatura média e robustos, caçadores e os segundos eram altos e esquios reconhecidamente recolectores. O grupo remanescente desta comunidade ainda hoje vive no inóspero deserto de Kalahari. Foram estes povos que estavam em interacção ou foram dominados pelos povos de origem Bantu.
As comunidades de caçadores e recolectores remontam há cerca de 1200 anos antes da nossa era na África Austral e subsistiram, em Moçambique, até finais do primeiro milénio d. C. Ocupavam as savanas dos rios Zambeze e Limpopo chegando até ao Índico a leste do rio Zambeze. Seus vestígios foram encontrados em diversas estações arqueológicas, das quais se destaca a de Massingir por apresentar uma sequência de diversos estágios líticos.
Características das Comunidades de Caçadores e Recolectores/Comunidade Primitiva Primeiro Período da História de Moçambique
- Economia recolectora (recolecção e caça) – A colecta era actividade praticada pelas mulheres, onde apanhavam bagos, ervas, resina, raízes bulbosas, caules subterrâneos, mel, insectos, térmites, gafanhotos, moluscos de água doce, pássaros marinhos, foca e peixe. Os homens (adultos e jovens) dedicavam-se à caça, pois exigia força, conhecimento técnico e magia;
- Eram comunidades nómadas;
- Fraca relação de parentesco;
- Divisão natural de trabalho – (mulheres na recolecção, homens na caça, e, crianças e velhos realizavam tarefas mais leves);
- Uso de instrumentos rudimentares (ossos, pedra, paus, fibra e marfim); • Imediatismo na produção-consumo;
- Organização social baseada em bandos;
- Divisão do produto final por igual – não existia classes sociais;
- Estavam organizados em famílias alargadas dirigidas por anciãos (eram os mais respeitados devido à sua experiência; dirigiam a caça; a divisão dos produtos e orientavam as cerimónias religiosas);
- Prática de arte de pintura rupestre.
Em Moçambique a arte rupestre está representada em regiões planíficas do interior, tais como: Chinhamapere (Manica), Zianes Chicolane (Tete), Chifumbaze (Tete), Campito (Niassa),
Malembeve (Niassa), entre outros lugares.
Significado da Arte Rupestre
Os homens do Paleolítico deixaram-nos pinturas extraordinárias nas paredes de muitas cavernas que habitavam. Essas pinturas chama-se rupestres por terem sido feitas sobre rochas. Representam, em geral, caçadas, combates entre tribos rivais; mamutes, bisontes, cavalos, renas e mesmo homens.
A arte rupestre tinha um significado mágico religioso, em que desenhavam o que gostariam de obter numa caça feliz, como gado gordo ou bonita rapariga. O homem primitivo pensava que, pelo facto de “matar” um animal em desenho, o matava na realidade. Tinha também um significado mágico ritualista, pois para além de divulgar as qualidades artísticas servia também como instrumento para qual os feiticeiros lançavam as suas bruxarias. Em Moçambique a arte rupestre classifica-se em pinturas e gravuras.
As mudanças climáticas e o aumento da população levaram as comunidades de economia ceginética a uma miscigenação e adaptação de tecnologias mais avançadas com as populações de origem bantu da Idade de Ferro Inferior, povos provenientes da orla noroeste da grande floresta equatorial, por volta dos séc. II a III.
Povos de Origem Bantu
Expansão e Fixação Bantu
Já na Idade de Ferro, vários povos com uma língua comum, o Bantu, emigraram para Moçambique, de forma paulatina e seguidas de um processo de ocupação. A fixação destes povos fez nascer as primeiras sociedades moçambicanas com tendências para a criação de riquezas e centralização do poder.
Substituindo a “comunidade primitiva” e o predomínio da caça e recolecção, vários grupos populacionais foram chegando a Moçambique desde há cerca de 1700 anos, povoando gradualmente as bacias fluviais costeiras e, quase ao mesmo tempo as encostas e os planaltos do interior. Esse processo de expansão ficou conhecido por Expansão Bantu. A palavra bantu tem uma conotação exclusivamente linguística e surgiu dos estudos entre 1851 e 1869 do linguista alemão Wilhelm Bleek, para assinalar o grande parentesco de cerca de 300 línguas as quais utilizavam esse vocábulo para designar “os homens” (singular muntu) – Não existe, pois, uma “raça bantu.” (SERRA, 2000, 11). Para Pierre Alexandre, “a palavra bantu resulta de uma fonologia povo, homem, pessoa ou gente”
Causas da Expansão Bantu
- Alargamento do deserto de Saara;
- Aumento populacional na orla noroeste da floresta equatorial;
- A falta de terras cultiváveis; • A difusão da tecnologia de ferro;
- A prática da actividade agro-pecuária.
O que se pode ter como certo, é que a expansão demográfica bantu em Moçambique ocorreu como consequência do conhecimento da agricultura e do processo do fabrico de ferro.
Características da Comunidade de Agricultores e Pastores
- Introdução e desenvolvimento das actividades agrícolas, pecuária, metalurgia, artesanato e pesca;
- Desenvolvimento das comunidades sedentárias semi-permanentes;
- Organização das comunidades em linhagens onde o poder dos chefes era de ordem moral e não político;
- Surgimento das primeiras comunidades sedentárias;
- Aparecimento do excedente de produção;
- Assiste-se uma transição da economia recolectora para uma economia produtiva o que permitiu o crescimento da população;
- Estes homens viviam em aldeias perto dos cursos das águas.
A base da sua economia era a agricultura. Essa actividade incompatibiliza-se com o nomadismo. Exigia uma longa permanência num determinado espaço (sedentarismo) para a prestação dos cuidados que os campos e as culturas reclamam durante o ciclo agrícola (lavoura, sementeiras, sacha, colheita, armazenamento, selecção de sementes, etc.).
Teorias de Expansão Bantu – Localização do Núcleo Bantu
De entre vários autores consagrados, destaque particular para o trabalho realizado por Martin Hall, que resumiu em três aspectos fundamentais as grandes discussões de linguistas, arqueológicos e historiadores têm realizado sobre a expansão bantu:
1º Aspecto – Teoria Rácica Os povos bantu eram uma nova raça que teria imigrado para o sul, substituindo ou absorvendo as comunidades primitivas que habitavam a África Austral – é a concepção rácica da expansão, prontamente criticada e abandonada;
2º Aspecto – Teoria Linguística Os povos bantu não eram uma nova raça, mas sim povos falantes de línguas aparentadas entre si – o bantu - É a chamada teoria linguística. O termo bantu passou a ser utilizado a partir de 1862, graças ao trabalho do linguista alemão Wilhelm Bleek, que descobriu um grande parentesco em cerca de 300 línguas faladas na região Austral. Esta teoria tem várias vertentes para explicar a expansão bantu, a saber:
i. Para GREENBERG, Joseph, “a migração bantu deu-se em direcção ao sul a partir da zona da fronteira entre os Camarões e a Nigéria.”
ii. Segundo GUTHRIE, Malcom, “o centro da expansão teria sido a região de Luba, na província de Shoba no Zaire.” iii. OLIVER, Roland, concorda com ambos, defendendo que “suas teorias se complementam e acrescenta um novo dado – a expansão obedeceu quatro fases distintas”.
iii. PHILLPSON, David, defende que “a origem da expansão encontra-se na floresta dos Camarões, com dois movimentos distintos: um que contornou a grande floresta para a região dos Grandes Lagos (oriente) e o outro que o seguiu, atravessando a floresta em direcção ao Zaire e Angola.” O segundo movimento defendido por Phillpson, teria sido aquele que refere o grupo que, contornadas as grandes florestas equatoriais para oriente, penetrou no Quénia, Tanzânia e atravessou o rio Rovuma e outro entrou de Zâmbia depois o norte de Tete, chegando ocupando todo território moçambicano.
iv. EHRET, Cristopher, acredita que “as línguas bantu espalharam-se através da zona tropical, com um período de diferenciação local na região da floresta de Savana, antes da sua expansão final para oriente e região sul oriental”
Em suma, podemos concluir que os que defendem a teoria linguística concordam que o centro da expansão bantu, o núcleo proto-bantu, estaria na orla noroeste da floresta equatorial e que em vagas sucessivas teriam chegado à África Austral.
3º Aspecto – Teoria da Domesticação dos Animais e Flora e o Uso da Tecnologia de Ferro A expansão bantu estaria ligada à domesticação dos animais e plantas, à cerâmica e ao trabalho de ferro. O desenvolvimento desta economia mista (agricultura, pastorícia e metalurgia), permitiu a sedentarização das populações, especialização no trabalho e o surgimento da desigualdade social. Os Bantu já dominavam a técnica da metalurgia de ferro. Com a utilização de instrumentos feitos de ferro, a vida das populações na África Austral melhorou consideravelmente.
A Expansão da Técnica do Ferro
No que se refere a nova tecnologia de ferro, teve sua importância na migração Bantu, uma vez que a descoberta deste metal permitiu a esta população o fabrico de instrumentos mais cortantes, resistentes e eficazes, contribuindo desta maneira no aumento da produção e da productividade o que criou condições para o surgimento do excedente. Dentre os vários cereais cultivados pelo povo Bantu pode-se destacar a Mapira e a Mexoeira. O ferro foi descoberto na Ásia a.n.e., provavelmente pelos Hititas. Em África as rotas de ferro seguiram três caminhos: 1. Em 1700 a.C. o ferro foi introduzido no Egipto pelos Hicsos (vindos da Ásia). No primeiro milénio a.C. os meroenos (sul do Egipto) divulgaram a técnica para a África Central. Nota: Hicsos – Egipto – Méroe– África Central.
Séc. IX a.C., os fenícios já faziam o uso de ferro. Ao fundar a cidade de Cartago, divulgaram a técnica do uso de ferro aos cartagineses e berberes e no séc. V a.C., era já conhecida pelas populações de Nok (África Ocidental). Nota: Fenícios – Cartago – Berberes – Nok.
Os Bantu aprenderam a trabalhar o ferro com as populações de Nok e divulgaram a técnica na África Sub-Equatorial. Nota: Nok –Bantu – África Sub-Equatorial.
O Povoamento Bantu em Moçambique
O povoamento de Moçambique resultou de maior sedentarização da expansão demográfica de povos Bantu e do processo de fabrico de ferro. O estudo arqueológico sobre o povoamento da região é limitado. No entanto, algumas hipóteses têm sido avançadas, em particular a existência de duas rotas de penetração e de povoamento: 1. As populações Bantu teriam atravessado o Rovuma em direcção ao sul, ocupando progressivamente as terras do interior até ao rio Zambeze. 2. A segunda via situava-se nos planaltos do interior africano, tendo um grupo de populações contornado o lago Niassa, pelo sul e povoando as terras para o norte, primeiro os planaltos e depois as planícies costeiras dos vales do rio Lúrio e do Lugenda.
O estudo da Idade de Ferro em Moçambique, ao longo dos vários anos, foi sempre realizado com múltiplas interpretações através das poucas informações disponíveis e onde a arquelogia é, na essencia, tida como a única fonte. Em Moçambique, evidências da expansão bantu, teriam sido gradualmente reveladas em diversas estações arqueológicas, na Matola, em Xai-xai, Vilanculos (Chibuene, Bazaruto), Marrape, Holahola (Save), Mavita (Manica), Chongoene, Bilene, Zitundo, Serra Maúa, Monte Mtukwe (Niassa), entre outros locais. A maior parte destas estações arqueológicas, são testemunhos de um conjunto populacional que escolheu as planícies costeiras para sua gradual progressão, em relação ao sul atingindo a Baia do Maputo e Mpumalanga na R.S.A por volta dos anos 200 n.e.
Estas evidências provam a migração populacional a partir das planícies da costa oriental em direcção ao sul cerca do ano 200. Ocuparam a costa, prolongando-se para o interior ao longo de uma estreita faixa de terra nas margens do rio Incomati e Limpopo.
Encomende já o seu trabalho!!!
+258 85 068 4646